Editora: Panini Comics – Edição especial
Autores: Warren Ellis (roteiro), John Cassaday (arte), Laura Martin e David Baron (cor).
Preço: R$ 21,90
Número de páginas: 160
Data de lançamento: Novembro de 2013
Imagine-se vivendo nos anos 90, a verdadeira Idade das Trevas para a industria de quadrinhos americana. A cada mês as bancas eram invadidas por coisas apavorantes com cada vez mais novos anti-heróis, armas e “trabucos” cada vez maiores nas mãos de personagens cada vez mais motherfucker e … Rob Liefeld!
Os roteiros perderam em qualidade junto com a arte que deixou o realismo de lado e passou a dar espaço para traços que copiavam mangá, anatomias distorcidas ou Capitães Américas peitudos! A tão querida Marvel vendendo os direitos cinematográficos de seus personagens mais populares para não falir e a DC Comics reinventando heróis clássicos com fórmulas e origens absurdas e sem sentido ou matando e revivendo heróis com explicações sem pé nem cabeça. Era um verdadeiro terror a cada revista e até mereceu a concepção de uma palavra nova para tornar tantas “cagadas” um objeto de estudo. O nome disso é “noventização dos quadrinhos”.
Então veio 2001 e a luz do esclarecimento surgiu na mente de roteiristas que iriam escrever trabalhos genais no início desse novo século. A arte para determinados trabalhos deixaram de lado fórmulas replicadas e passaram a ser relacionadas ao formato que o roteiro exigia (mas nem sempre!). Nomes como Brian Azzarello, John Cassaday, Warren Ellis, Bill Willingham contribuíram com brilhantismo nesses primeiros cinco anos do novo século e outras abordagens para títulos e temas que já eram conhecidos pelo público a mais de 40 anos felizmente nasceram. Muitos destes nomes começaram no mercado nos anos 90, mas suas obras marcantes foram a partir de 2000 – É claro que a industria voltou a cometer erros depois disso, mas deixemos isso para outro dia.
Uma HQ que traz esse brilhantismo do novo século veio da dupla Ellis e Cassaday e é totalmente referente a cultura do século XX. Assim é Planetary que voltou às bancas em novembro de 2013 pela editora Panini Comics no encadernado Planetery Livro 1 – Pelo Mundo Todo e Outras Histórias.
Uma HQ referente a cultura do século XX? O que vem a ser isso?
“Referência” parece ser a principal premissa desse quadrinho. Pegar todos os arquétipos de aventureiros criados ao longo dos últimos 100 anos e colocá-los juntos, em uma espécie de “super-grupo”, para enfrentar perigos dignos de qualquer conto pulp dos anos 30; de seriados de scy-fy da década de 60 ou de séries de mistério como Arquivo X. Os protagonistas de Planetary estão longe de ser apenas super-heróis. Eles o são de fato. Mas também são algo mais da nossa cultura. Como rockstars, hackers, historiadores, exploradores e cientistas. Ou seja, arquétipos de personagens de quase qualquer publicação popular no século XX.
Publicada lá fora no fim de 1999, a obra de Ellis para a Wildstorm (hoje parte da DC Comics) conta como esses super aventureiros, que juntos formam os Arqueólogos do Impossível, se conheceram e iniciaram as viagens pelo mundo procurando por mistérios que, como em Arquivo X, nem sempre são resolvidos. Apesar de poderosos, em algumas das histórias desse primeiro álbum tratam esses “indianas jones” como meros observadores. O grupo é formado por Jakita Wagner que tem super-força, o Baterista (esse é o nome dele mesmo) que pode se comunicar com as máquinas e Elijah Snow – nada a ver com os bastardos de Winterfell!
Snow é um sujeito misterioso com domínio sobre o gelo e o frio e com cerca de cem anos de idade. Ele nasceu no primeiro dia do século XX (01/01/1900). Tá, não é o primeiro dia do século não, todo mundo sabe que os romanos não reconheciam a necessidade do zero e por isso o ano em que Cristo nasceu foi contado no calendário como “ano 1” ao invés de “ano 0”. Por isso, todos os séculos iniciam-se nos anos terminados em “1” (como em 2001). Mas isso todo mundo já sabe, certo? Certo?
O importante é que Snow é imortal e consegue controlar o frio que poderia congelar a água dentro do cérebro de alguém. Na primeira edição, os Arqueólogos encontram o Doutor Brass quase morrendo em uma caverna subterrânea. Eles o salvam e descobrem sobre seu passado. Que pertencia a um grupo de heróis uniformizados salvadores do mundo na década de 30. Esse grupo são uma referência a personagens pulp como Doctor Savage ou James Bond e a possivelmente a Sociedade da Justiça da América.
Mas as referências às criações culturais dos quadrinhos, cinema, televisão, rádio e literatura de não terminam por aí! No segundo capítulo, o super-grupo investiga uma estranha ilha no Japão habitada por monstros gigantes. É claramente uma alusão a filmes como Godzila e aos Tokusatsu. Daí, vamos para uma Hong Kong assombrada por fantasma pistoleiros e um cientista fulminado por raios que se transforma em uma monstruosa criatura verde (Hulk) – mas é deixado para morrer em uma vala de mais oito metros. E eu falei sobre Formigas Gigantes? Isso mesmo, como nos filmes de terror da Hammer Studios.
Planetary Livro 1: Pelo Mundo e Outras Histórias é a oportunidade perfeita para conhecer o trabalho do Ellis que por aqui só fora visto me revistas “mix” que nem levaram a série ao fim. Assim como Doctor Who, é uma verdadeira homenagem a cultura pop do século passado. Indispensável para qualquer um que se diga nerd. Seja ele fã de quadrinhos ou não. O primeiro volume envolve as edições da 1 a 6 e a um prévia dos números futuros.





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